Novembro é considerado o mês da consciência negra

Novembro é considerado o mês da consciência negra e antes que algum mal-intencionado venha dizer que consciência não tem cor, é importante sair do seu lugar confortável, repensar as bases de um racismo estrutural e que se manifesta, inclusive, no movimento espírita.

Esse não é meu lugar de fala, já que tem muitos irmãos e irmãs negros invisibilizados a partir de suas próprias narrativas. Acho importante debatermos – no movimento espírita, inclusive – o combate ao racismo estrutural, a necessidade de ações afirmativas para o povo negro e a luta, incessante, antirracista, pois não basta apenas não ser racista – esse é um dever legal, moral e cristão. Devemos condenar, diariamente, todo tipo de preconceito e segregação por raça e cor.

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Então, peço licença para, enquanto homem branco e a partir das minhas vivências, trazer esse tema para o debate no meio espírita, sabendo que há várias produções e contribuições de pesquisadores e educadores negros nessa área.

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O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro em todo o território nacional. A data faz referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares.

Ele foi um dos maiores líderes negros do Brasil que lutou para a libertação do seu povo e contra o sistema escravista. A importância da data está no reconhecimento dos descendentes africanos na constituição e na construção da sociedade brasileira. Os principais temas que podem ser abordados nessa data são o racismo, a discriminação, a igualdade social, a inclusão do negro na sociedade, a religião e cultura afro-brasileiras.

O triste episódio do racismo de Allan Kardec – fruto de uma visão eurocêntrica da época – deve ser debatido e combatido, para não reforçar ideias obsoletas, preconceituosas e anticristãs ainda nos dias de hoje.

O espiritismo não é uma revelação sagrada, estanque, “imexível”. Kardec, como qualquer um de nós, cometeu equívocos e certamente, de onde ele está (no plano astral), deve se arrepender de algumas posturas. Kardec não é racista, Kardec foi racista.

Nas palavras da amiga Dora Incontri: “Os livros de Kardec não são como a bíblia é para os cristãos – palavra de Deus, revelada, que pode ser citada como fonte de autoridade absoluta. A obra de Kardec é de pesquisa, em que encarnados e desencarnados participaram da construção. Justamente uma das grandes contribuições de Kardec foi dessacralizar a revelação. (…) O conteúdo do Espiritismo está sujeito à revisão, reelaboração e leituras históricas (compreendendo que algumas coisas que estão nas obras de Kardec são próprias do século XIX, têm uma influência da cultura europeia da época).”

Sua postura racista se manifestou por meio de dois textos distintos. Um artigo publicado na Revista Espírita em 1862 e outro, que aparece em Obras Póstumas (portanto não foi publicado por Kardec e talvez ele não o publicasse). O primeiro se chama “Frenologia Espírita e a perfectibilidade da Raça Negra” e o outro, “Teoria da Beleza”.

Todo conhecimento é fruto de seu tempo e devemos olhar com cuidado para todas as outras obras de Kardec, que pregou a fraternidade entre todos, o amor ao próximo e a igualdade.

Tempos atrás, em conversa brancos e espíritas, uma das interlocutoras relatou, com deboche, que seu filho estava namorando uma “negrinha”. Ao notar o nosso espanto, ela tentou desdizer, pois tinha sido “mal compreendida”, afirmando não ser racista, mas que tinha falado aquilo por que seu filho estava se envolvendo com uma militante de esquerda e negra.

Já ouviram falar que a emenda sempre fica pior que o soneto? Pois foi o que aconteceu. Fato mais triste ainda foi que, ao nosso lado, a moça da limpeza – negra – ouviu, abaixando a cabeça em seguida.

Essa situação não sai da minha cabeça e a decepção comigo mesmo por não ter sido mais enfático no combate àquela declaração racista.

Esse racismo estrutural, fruto de uma sociedade patriarcal, branca, heteronormativa, machista e preconceituosa, se manifesta em pequenas brincadeiras, em chacotas, em olhares.

Já fizeram o teste do pescoço?

Quantos espíritas negros você conhece? (Não vale citar aqueles beneficiários da assistência social promovida por alguns centros).

Quantos desses são lideranças, estão em posição de destaque na sociedade? Para fazer o teste completo, clique aqui.

Finalizo esse texto, invocando em espírito e verdade, a memória de José do Patrocínio, Auta de Souza, Gangazumba, Zumbi dos Palmares, Carolina Maria de Jesus, Chica da Silva, Mãe Menininha, Mãe Estela, Anastácia, Claudia, Amarildo, para “profetizarem” conosco uma nova era. Uma era de amor, de tolerância, de respeito, de compaixão e sem racismo ou qualquer outro tipo de segregação.

Em tempos de ódio, é sempre importante radicalizarmos o amor.

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bbraga

Sobre bbraga

Atuo como professor de química, em colégios e cursinhos pré-vestibulares. Ministro aulas de Processos Químicos Industrial, Química Ambiental, Corrosão, Química Geral, Matemática e Física. Escolaridade; Pós Graduação, FUNESP. Licenciatura Plena em Química, UMC. Técnico em Química, Liceu Brás Cubas. Cursos Extracurriculares; Curso Rotativo de química, SENAI. Operador de Processo Químico, SENAI. Curso de Proteção Radiológica, SENAI. Busco ministrar aulas dinâmicas e interativas com a utilização de Experimentos, Tecnologias de informação e Comunicação estreitando cada vez mais a relação do aluno com o cotidiano.

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