Postado em 15 de novembro de 2015
Por Douglas Belchior
Novembro é considerado mês da consciência negra em razão das comemorações do dia 20, data que lembra a morte em luta do mais importante líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi. Há quem diga que essas comemorações reforçam o racismo. Há quem sugira, em contrapartida, o “dia da consciência branca”!!! É para esses, que teimam dizer que racismo é “coisa da nossa cabeça”, que recupero o texto incrível dos ativistas Francisco Antero e Luh Souza.
Que tal fazer o teste do pescoço?
Por Francisco Antero e Luh Souza
Existe racismo no Brasil? Faça o Teste do Pescoço e descubra:
1. Andando pelas ruas, meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros (as) são balconistas.
2. Vá em quaisquer escolas particulares, sobretudo as mais caras, como Objetivo ou Dante Alighieri, espiche o pescoço para dentro das salas e conte quantos alunos negros há. Aproveite e conte quantos professores são negros e quantos negros estão varrendo o chão.
3. Vá em hospitais como o Sírio Libanês, enfie o pescoço nos quartos e conte quantos pacientes são negros. Gire o pescoço e conte quantos médicos negros há. Aproveite para espichar bem o seu pescoço nos corredores e conte quantos negros limpam as vidraças ou servem cafezinho.
4. Quando der uma volta em algum shopping, gire o pescoço para as vitrines e conte quantos manequins representam a etnia negra consumidora. Enfie o pescoço nas revistas de moda, nos comerciais de televisão e conte quantos(as) modelos negros(as) fazem publicidade de perfumes, carros, viagens, vestuários e etc. Reflita acerca da alta e baixa estima das crianças negras e brancas.
5. Vá às universidades públicas, observe nos cursos mais concorridos da USP e UNICAMP, torça o pescoço a procurar pelos negros e negras. Conte quantos são professores, alunos e serviçais.
6. Espiche o pescoço numa reunião de partidos como PSDB ou DEM e conte quantos políticos são negros desde a fundação. Depois faça uma reflexão a respeito de alguns partidos serem contra todas as reivindicações das comunidades negras, sobretudo as Cotas Raciais.
7. Gire o pescoço 180° durante as passeatas dos médicos que protestam contra os médicos estrangeiros, e conte quantos médicos(as) negros(as) marcham.
8. Meta o pescoço nas cadeias, nos orfanatos, nas casas de correção para menores e conte quantos são brancos. É mais fácil.
9. Gire o pescoço e procure quantas empregadas domésticas, serviçais, faxineiros, favelados e mendigos são brancos. Pergunte-se qual a causa dos descendentes de europeus ou orientais não serem vistos embaixo das pontes, em favelas, na mendicância ou varrendo o chão. Quando seus ascendentes chegaram ao Brasil? Quando terminou a Abolição?
10. Espiche bem o pescoço na hora do Globo Rural e conte quantos fazendeiros são negros, depois tire a conclusão de quantos são sem-terra, quantos são sem-teto. Gire o pescoço durante a exibição do programa Pequenas Empresas & Grandes Negócios e conte: Quantos empresários são negros?
11. Nos canais abertos de televisão, gire o pescoço nas programações e conte quantos apresentadores, jornalistas ou âncoras de jornal, artistas em estado de estrelato, são negros. Onde as crianças negras se veem representadas? Pergunte-se se esta espécie de racismo é construtivo para a auto estima dos pequenos filhos de determinada etnia?
12. Enfie seu pescoço dentro das instituições bancárias e conte quantos negros são gerentes, quantos são caixas e quantos são faxineiros.
13. Vá num dos bairros mais caros de sua cidade, de seu estado, gire seu pescoço pelas ruas, dentro das casas, no comércio. Quantos negros são moradores? Quantos são seguranças e empregados domésticos ? Aproveite e torça seu pescoço nos ‘melhores’ restaurantes, quantos clientes são negros? Aliás, conte quantos chefs são negros? Pergunte-se a diferença de salários entre um chef badalado e as cozinheiras negras.
Aplique o teste do pescoço no seu dia a dia, em todos os lugares. Tire suas próprias conclusões.
Somos de fato um país pluricultural, uma ‘Democracia Racial’ tratados iguais e com as mesmas chances? Desde quando existe esta diferença que você viu? Procure na História do seu país, regresse 500 anos e encontre as respostas.