Estudo lançado em Florianópolis aponta que 74 milhões de brasileiros podem ficar sem água até 2035
Prazo leva em conta cenário de ausência total de investimento em infraestrutura. Planos nacionais e redução de perdas são estratégias para evitar escassez
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A primeira parte de um estudo lançado na tarde desta quinta-feira (8) em Florianópolis aponta que, se não for feito nenhum investimento em infraestrutura, deve faltar água para cerca de 74 milhões de brasileiros até 2035.
O sumário do relatório “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil” foi lançado durante o 15º Congresso Brasileiro de Limnologia (estudo científico de água doce), que ocorre no Centrosul, em Florianópolis. O documento é destinado a gestores públicos, empresários e outros entes capazes de tomar decisão. O relatório completo está em fase final de elaboração e deve ser lançado até 15 de setembro. sumário apresentado no Congresso na Capital, além da previsão de dificuldades hídricas em caso de falta de investimentos, também há informações sobre o potencial hídrico do Brasil e as diferenças de distribuição desses recursos.
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Segundo o relatório, o país tem 12% da disponibilidade hídrica superficial do planeta, além de reservatórios de água subterrânea e circulação atmosférica que distribui umidade entre as regiões. Essa capacidade seria capaz de regular o clima de toda a América do Sul.
Todo esse potencial, no entanto, apresenta contrastes, segundo dados do relatório. A região Norte concentra 68% da disponibilidade hídrica do país, mas tem apenas 7% da população nacional. Já o Sudeste abriga 58% dos habitantes, mas dispõe de apenas 13% da disponibilidade de água.
As diferenças também aparecem no contexto regional. Segundo números do relatório, 92% dos municípios do Sul do país já registraram ocorrências de inundação. No Nordeste, por sua vez, 98% das cidades tiveram situação oposta, com registros de situação de seca.
O estudo foi elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, grupo independente que reúne cerca de 120 autores, professores universitários, pesquisadores e gestores ambientais. Os resultados são compartilhados com empresas, representantes do governo federal e ONGs.
Estudos miram investimentos e avanços
Para planejar os investimentos necessários e evitar o cenário de escassez no futuro próximo, um dos avanços recentes foi o Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), criado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e pela Agência Nacional de Águas. O documento propõe a implantação de projetos de infraestrutura para assegurar água aos brasileiros até 2035.
O estudo aponta que a cada R$ 1 investido em infraestrutura para a segurança hídrica, mais de R$ 15 são obtidos em benefícios associados à manutenção das atividades produtivas no país.
Outra medida de avanço foi o Plano Nacional de Saneamento Básico. Ele estima que para 2030, 93% do território brasileiro tenha tratamento de esgoto e que a perda na distribuição da água gire em torno de 30%. Em 2017, 68,5% do território brasileiro tinha esgoto tratado e o índice de perda da água era de 38,3%, conforme o estudo lançado nesta quinta.
No cenário projetado de escassez, a indústria seria a atividade produtiva com maior risco econômico iminente, correspondendo a 84% das perdas econômicas previstas, seguida da pecuária e da agricultura de irrigação. Esses são os setores produtivos com maior consumo de água no país (leia mais abaixo). Para diminuir o risco econômico de escassez hídrica à atividade produtiva, é estimada a necessidade de um investimento de mais de R$ 70 bilhões por ano.
Confira abaixo outras informações do sumário do estudo divulgado nesta quinta:
– Estima-se que a Bacia Amazônica possua mais espécies de peixes que todo o Oceano Atlântico.
– Os recursos pesqueiros do Brasil sustentam aproximadamente 300 mil pescadores artesanais.
– A matriz energética elétrica brasileira depende de cerca de 65% da produção hidrelétrica.
– A indústria utiliza mais de 180 mil litros de água por segundo.
– A agricultura irrigada e a pecuária são os principais usuários dos recursos hídricos do país, consumindo, respectivamente, por volta de 750 mil e 125 mil litros de água por segundo.
– A população brasileira consome por volta de 260 mil litros de água por segundo, considerando um consumo médio individual de aproximadamente 108 litros de água por dia.
– 85% da produção agropecuária nacional depende da água proveniente das chuvas, que tem aproximadamente 40% da sua origem na evapotranspiração da Amazônia.
– Um terço dos peixes pescados no Brasil são provenientes de água doce, com destaque para a região Norte, representando mais de 50% da produção pesqueira continental do país.
– Cerca de 40% do território nacional apresenta níveis de ameaça aos corpos hídricos de moderado a elevado.
Fonte: sumário do relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil”, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.