MARIE SKLODOWSKA-CURIE (o nome dela fala assim: Marrí Currí)
(7 de novembro de 1867 – 4 de julho de 1934)
Marie Sklodowska-Curie é uma das cientistas mais subestimadas. Em parte porque ela era uma mulher solitária no “mundo dos homens”: na época em que as mulheres nem sequer podiam votar na Europa e nos EUA. Portanto, não se surpreenda se você não ouviu falar dela tanto quanto ouviu sobre Albert Einstein. No entanto, ela foi uma pesquisadora mais prolífica, que ganhou mais honras de prestígio do que Einstein. Curie é a primeira mulher laureada com o Nobel; e até agora, a única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em dois ramos da ciência: física e química. Ela também é a primeira mulher a receber uma cadeira professora na Universidade de Paris (França). Além de descobrir o polônio e o rádio, o desenvolvimento da Química Radioativa por Curie fortaleceu as bases da Física Atômica e das Tecnologias Nucleares.
Após as mortes de seu marido (Pierre Curie) em 1906 e seu mentor (Henri Becquerel) em 1908, Marie Curie continuou a avançar os trabalhos que eles haviam iniciado. Ela também contribuiu para aplicações práticas dos raios X, que Wilhelm Roentgen foi pioneiro. Na verdade, a razão pela qual ela relegou suas pesquisas radioativas para o banco de trás durante a Primeira Guerra Mundial foi porque se ofereceu para servir as forças armadas francesas como radiologista de raio X.
Esqueça a mídia em volta de Albert Einstein. Em termos de ciência, Marie Curie demonstrou mais talento e mais desenvoltura do que ele. E ela tem mais elogios para mostrar isso. Tudo conseguido enquanto enfrenta discriminações de gênero enraizadas em todos os níveis da academia. Contribuiu para aplicações práticas dos raios X, que Wilhelm Roentgen foi pioneiro.
E ela tem mais elogios para mostrar. Isso tudo conseguido enquanto enfrenta discriminações de gênero enraizadas em todos os níveis da academia.
RADIOATIVIDADE
Antecedentes para entender a descoberta da radioatividade por Antoine Henri Becquerel (1852-1908).
O final do século XIX trouxe grandes progressos para a química, com o nascimento da estereoquímica e da química de coordenação, através dos trabalhos de Alfred Werner. Esse período também foi marcado por avanços importantes na física, especialmente pela invenção do espectroscópio, em 1859, e pelos estudos sobre a luz emitida pelos corpos, três décadas depois. É interessante notar que, já em 1821, Davy havia feito experimentos sobre eletricidade em gases, mostrando que o ar torna-se melhor condutor quando rarefeito. Experimentos de descarga elétrica em gases também foram feitos depois por Michael Faraday (1791-1867), Heinrich Geissler (1814-1879) e outros. Geissler, um soprador de vidro (hialotécnico) talentoso, conseguiu aperfeiçoar os tubos com gás rarefeito, que despertaram a curiosidade por causa da luz fluorescente emitida, e pelo fato dos feixes poderem ser movidos por um ímã.
Os estudos evoluíram até os trabalhos de William Crookes (1832-1919) com os tubos de raios catódicos, precursores dos tubos de televisão, e depois com Joseph John Thomson (1856-1940) com as descobertas que dariam origem à espectrometria de massa nos tempos modernos. Thomson observou o comportamento dos feixes ao aplicar campos elétricos, chegando muito próximo da relação carga/massa do elétron. Contudo, o melhor resultado de determinação da carga do elétron foi obtido por Roberto A. Millikan (1868-1953), no início do século XX, ao realizar o célebre experimento da gota de óleo. Os valores atuais de e/m são próximos de 1.7 x 107 esu/g. A massa do elétron corresponde a 1/1837 da massa do átomo de hidrogênio.
Röntgen ou Roentgen (símbolo R) é uma unidade de medida de radiação ionizante (como os raios X e raios gama), nomeada em homenagem ao físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen. Adotada em 1928, 1 R é a quantidade de radiação necessária para libertar cargas positivas e negativas de 1 unidade eletrostática de carga (esu) de 1 cm³ de ar seco à temperatura e pressão normais (STP). Tal corresponde à geração de aproximadamente 2.08×109 pares de íons.
Johann J. Balmer (1825-1898), ao observar a luz emitida pela lâmpada de hidrogênio através de uma fenda, concluiu que ela podia ser decomposta em quatro linhas espectrais, com suas frequências características. Seguiram-se os trabalhos de Paschen, Lyman, Brackett e Pfund, que foram englobados na famosa equação anteriormente proposta (1890) por Johannes R. Rydberg (1854-1919), da Universidade de Lund. As indicações de relações bem definidas de energia dentro do átomo ficavam aparentes na equação de Rydberg, e acabariam por comprovar o modelo atômico de Bohr que viria a surgir somente duas décadas depois.
Em 1895, Wilhelm K. Röntgen (1845-1923) estava estudando a emissão de luz ultravioleta em tubo de descarga elétrica em gás, utilizando cristais fluorescentes de Ba[Pt(CN)4 ] como detectores, quando percebeu a luminescência dos cristais mesmo o tubo estando coberto com papel preto. Descobriu, assim, um novo tipo de radiação, que chamou de raios X. Essa radiação era capaz de impressionar a chapa fotográfica, e de atravessar os tecidos orgânicos do corpo, sendo, porém, absorvida pelos ossos e metais. A aplicação médica foi quase imediata. Röntgen recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1901. Mais tarde, George Gabriel Stokes demonstrou que os raios X são radiações eletromagnéticas de comprimento de onda muito curto. Em 1912, Max von Laue (1879-1960) mostrou que os cristais conseguiam difratar os raios X, gerando padrões de pontos simetricamente distribuídos sobre um filme fotográfico. A demonstração de que os cristais atuam como redes de difração para raios X foi feita por William H. Bragg (1862-1942), professor da Universidade de Londres, e seu filho, William Lawrence Bragg. Esses experimentos evoluíram para as técnicas modernas de difração de raios X, que permitem determinar a estrutura atômica dos materiais. Na época da descoberta dos raios X também foram estudados o comportamento dos feixes ou raios canal que fluíam na direção do cátodo. Wilhelm Wien (1864-1928) mostrou que os campos elétricos eram capazes de defletir os raios canal, revelando que estes tinham carga positiva, e seriam formados pelos gases ionizados.
Estudando os raios emitidos pelos pontos fluorescentes do tubo, Becquerel resolveu utilizar vários materiais fluorescentes e fosforescentes conhecidos como detectores. Em um experimento, os cristais desses materiais foram colocados sobre a superfície encapada e protegida da luz de uma placa fotográfica, e expostos ao sol. O sal de urânio foi capaz de sensibilizar a placa fotográfica. Os experimentos repetidos em dias nublados, e depois no escuro, revelaram que a sensibilização das placas fotográficas era uma propriedade inerente ao sal de urânio, e não precisava de fonte externa de excitação. Becquerel descobriu que o novo tipo de radiação emanado pelo sal de urânio era parecido com os raios X na capacidade de atravessar tecidos e impressionar as chapas fotográficas. Além disso, era capaz de ionizar, o ar e torná-lo condutor. Descobriu ainda que a intensidade da radiação era proporcional à quantidade de urânio presente. Após os descobrimentos de Becquerel, o assunto começou a ser investigado por Marie Sklodowska Curie em seu plano de doutorado.
Marie (em pé) e Bronya
Manya Sklodowska nasceu em Varsóvia, em 7 de novembro de 1867. Nessa época, a Polônia estava dividida entre Áustria, Prússia (Alemanha) e Rússia, e Varsóvia ficava sob o controle da Rússia. Seu pai, Vladislav Sklodowska, era professor secundário de Matemática e Física, e sua mãe era diretora de escola.
Ambos foram bastante prejudicados com as pressões políticas, com rebaixamento de cargos e vencimentos. Manya, ou Marie (nome que adotaria mais tarde), tinha 10 anos quando sua mãe morreu de tuberculose. Para manter a família unida, Vladislav empenhou-se pessoalmente na educação dos filhos.
Os instrumentos utilizados nas aulas de Física foram mantidos em sua casa, depois da proibição do ensino de Laboratório pelas autoridades russas. Dessa forma, Marie aprendeu a fazer experimentos e iniciou-se em estudos de física com seu pai. Tinha facilidade para aprender matemática, e era a aluna mais brilhante da classe. Na formatura, aos 15 anos, foi contemplada com a medalha de ouro de melhor aluna, porém declinou dessa honraria para não ter que recebê-la das mãos das autoridades russas.
O domínio da Rússia impunha restrições ao ingresso das mulheres nas universidades. Por isso, Marie juntou-se às suas colegas, incluindo sua irmã Bronya, e passou a frequentar a chamada universidade itinerante, que funcionava clandestinamente no período noturno, mudando de localidade com frequência, para fugir da vigilância russa. O objetivo era principalmente o autoaperfeiçoamento dos alunos e a manutenção da memória e dos valores pátrios. O espírito de luta para ter uma boa educação era imenso.
Por isso, aos 17 anos, Marie fez um pacto com Bronya para trabalhar como tutora das crianças de um fabricante de açúcar nas redondezas de Varsóvia e, assim, custear seus estudos de Medicina em Paris. Como parte desse pacto, Bronya, depois de formada, sustentaria os estudos de Marie. Além de seu trabalho, Marie também passou a ajudar, de forma voluntária, na educação de crianças carentes. Retornando para Varsóvia dois anos depois, seu pai já estava restabelecido como diretor de uma escola e passou a custear os estudos de Bronya. Assim, com o apoio do pai, e dando continuidade ao seu trabalho de tutora e governanta, economizou o suficiente para prosseguir seus estudos em Paris.
Nesse período, continuava estudando diversos assuntos, como autodidata, melhorando seu conhecimento de matemática e aprendendo física com seu pai. Seu primo, Joseph Boguski, discípulo de Dmitri Mendeleev (1834-1907), era responsável pelo Museu da Indústria e Agricultura. Em apoio à perseverança de Marie, Boguski e seus amigos deram-lhe treinamento no laboratório de química, além de aulas nos fins de semana. Finalmente, em 1891, aos 24 anos de idade, Marie estava pronta para perseguir os seus sonhos em Paris. Levou apenas o suficiente para a viagem, além de um apoio dobrável para se sentar, pois no vagão de quarta categoria o governo alemão não permitia o uso de assentos. Em Paris, hospedou-se inicialmente na casa de Bronya, que já estava casada com Casimir Dluski, um polonês que conhecera na faculdade de Medicina. Casimir participava ativamente de movimentos em defesa da Polônia. Quando Manya entrou para a Sorbonne, em 1891, adotou o nome Marie, e passou a estudar matemática e física. Preocupado que a proximidade com Casimir pudesse prejudicar sua vida em Paris, e com o desgaste de seu longo percurso até chegar à Sorbonne, seu pai a aconselhou a se mudar para o bairro Quarter Latin, próximo da universidade, frequentado por estudantes e artistas. Marie percebeu que estava em desvantagem em relação a seus colegas, e precisava melhorar seus conhecimentos de física e matemática, assim como de francês.
Por isso, dedicou-se aos estudos com muito afinco, e em 1893 já conquistava o mestrado em Física. Passava por sérias dificuldades econômicas, mas, com o apoio dos professores, conseguiu uma bolsa de estudos, e prosseguiu até concluir o mestrado em Matemática, no ano seguinte. Nesse período, aceitou um trabalho de uma entidade, voltada para o desenvolvimento da indústria francesa, para racionalizar o comportamento magnético dos diferentes tipos de aço em termos de sua composição. Para cumprir sua incumbência, Marie precisava encontrar um laboratório onde pudesse realizar seus trabalhos.
Foi assim que, através de amigos, chegou ao laboratório da Escola Municipal de Física e Química Industrial de Paris, chefiada por Pierre Curie (1859-1906), Marie foi bem recebida, e encantou-se com a postura séria e gentil de Pierre. O trabalho em conjunto aproximava-os cada vez mais, e assim o respeito inicial foi se transformando em um relacionamento afetivo.
Pierre, 8 anos mais velho que Marie, não havia conseguido preencher sua vida afetiva desde a perda de sua companheira, cerca de 15 anos passados, principalmente por não encontrar alguém com quem pudesse compartilhar seu interesse científico. Marie concluiu seus trabalhos sobre o comportamento magnético dos aços e, com o pagamento recebido, devolveu voluntariamente os recursos para a fundação que a havia apoiado com a bolsa de estudo, durante o seu mestrado. Completada sua missão, Marie tinha aspiração de voltar para a Polônia, mas foi convencida por Pierre a realizar o doutorado em Paris, com Gabriel Lippmann, um cientista muito respeitado, responsável por estudos importantes sobre os efeitos elétricos em cristais.
Lippmann abriu espaço em seu laboratório para os trabalhos de Marie. Pierre Curie havia sido um aluno brilhante em Matemática, completando o mestrado com apenas 18 anos. Em seu laboratório, já havia feito várias descobertas relevantes, porém sem buscar o doutorado. Com 21 anos, juntamente com o irmão Jacques, que era mineralogista, descobriram o efeito piezoelétrico em cristais. Esse efeito envolve a produção de uma resposta elétrica quando determinados cristais são pressionados, e vice-versa. Atualmente, é a base de todo o sistema de produção de som em equipamentos elétricos para comunicação e reprodução musical. Os dois irmãos utilizaram esse efeito na construção de um eletrômetro de quartzo piezoelétrico, capaz de medir quantidades muito pequenas de corrente elétrica.
Pierre Curie também realizou estudos pioneiros em magnetismo, descobrindo como o comportamento dos materiais magnéticos modificam-se com a temperatura. A temperatura em que a mudança é observada é denominada temperatura de Curie em sua homenagem. Pierre também desenvolveu uma balança magnética extremamente sensível, que leva o seu nome. Estimulado por Marie, Pierre concluiu a redação de sua tese em magnetismo, obtendo em março de 1895. Eletrômetro inventado por Pierre Curie.
O casal Curie
Uma breve história da dupla que revolucionou a física atômica, mexeu com radiação sem luvas, passou o rodo no Nobel e renegou a vida de celebridade.
Quando se fala em átomo, urânio ou radioatividade, a primeira ideia que vem à cabeça é a de uma imensa usina recheada de aparelhos sofisticados. Mas foi num laboratório improvisado, mais parecido com um celeiro ou uma estrebaria, que, em dezembro de 1898, o casal de franceses Pierre e Marie Curie fez uma descoberta que revolucionaria a ciência: um elemento químico que chamaram de radium – ou, em bom português, rádio.
Eles trabalhavam com duas panelas em um fogão que mal esquentava, e escreviam suas anotações sobre mesas ordinárias de madeira. O lugar, nos fundos da modesta Escola Municipal de Física e Química, em Paris, onde Pierre era professor, tinha sido emprestado pela diretoria. Foi desse trabalho quase primitivo que brotaram dois prêmios Nobel, atribuídos, um, ao casal e, outro, a Marie Curie, já viúva.
Não que França fosse um país pobre. Mas os Curie eram. Marie Skłodowska, imigrante polonesa, chegou a Paris em 1891 sem diploma. Voluntariosa, calada, forte, dona de uma rara curiosidade científica e uma memória prodigiosa, ela entrou para a Sorbonne. Em quatro anos, formou-se em Física e em Matemática. Estudante, vivia com os parcos recursos de uma bolsa e o pouco dinheiro que a sua irmã Bronia lhe enviava da Polônia. Essa renda mínima permitia a Marie apenas alugar um quartinho minúsculo e comer o estritamente necessário para sobreviver – durante um bom tempo, viveu praticamente de pão, manteiga e chá, a ponto de os colegas temerem por sua saúde.
Em abril de 1894, aos 26 anos, ela se dedicava a uma pesquisa sobre as propriedades de certos metais e, para tanto, procurava um lugar onde pudesse fazer suas experiências. Foi quando um amigo polonês fez, para ajudá-la, algo que mudaria o curso da vida de Marie e da própria ciência. Ele a apresentou a um conhecido, chefe de pesquisa na Escola de Física, chamado Pierre Curie.
Como ela, Pierre era tímido e introvertido. Filho de médico, aos 35 anos ainda morava na casa dos pais, na periferia de Paris.
Na época, Pierre já era conhecido na comunidade científica francesa e preparava sua tese de doutorado. Não tinha como o cara não se apaixonar pela moça que lhe pediu ajuda – era um amor nerd na época em que nerds eram raridade. Pouco mais de um ano depois do primeiro encontro, em setembro de 1895, os dois se casaram. Ao voltarem da lua-de-mel (uma viagem de bicicleta pelo interior da França), foram morar num pequeno apartamento perto da escola. Nessa altura, Pierre tinha sido promovido a professor e ganhava um pouco mais.
Marie, por seu lado, se preparava para começar o mestrado e procurava um trabalho de pesquisa remunerado.
A dissertação de mestrado de Marrie. (Leiden University Library/Domínio Público)
Os dois primeiros anos do casamento, conforme ela escreveu em sua autobiografia, foram “os melhores de minha vida”. Enquanto Pierre se dedicava às aulas e pesquisas sobre cristais, ela mergulhava num trabalho sobre variações das propriedades magnéticas de diversos tipos de aço em função de suas propriedades químicas (proporção de ferro na composição). “Nossa vida é sempre a mesma”, escreveu ela numa carta ao irmão, na Polônia. A rotina só mudou quando Marie engravidou. Ela teve uma gravidez difícil, a ponto de muitas vezes nem conseguir trabalhar.
Em setembro de 1896, Irène nasceu. Marie não permitiu que a condição de mãe a afastasse da Física. Assim, ao mesmo tempo que preparava sua monografia sobre os aços, ela procurava uma tese para seu doutorado—um ato surpreendente, já que havia, em toda a Europa, uma única mulher com o título de doutora: a alemã Elsa Neumann, autora de uma tese sobre eletroquímica. Marie seria a segunda.
Eram tempos prodigiosos aqueles. No mundo científico pontificavam figuras gigantescas como Sigmund Freud e Louis Pasteur. Pesquisadores ousados subiam em balões a 10 mil metros para fazer a previsão do tempo, enquanto nos Estados Unidos cartões perfurados ajudavam a coletar e interpretar os dados do recenseamento. Foi no ano em que Irène nasceu que o francês Antoine-Henri Becquerel (1852- 1908) descobriu que os sais de urânio emitiam raios que, como os raios X, penetram a matéria.
Interessada, Marie resolveu tirar daí sua tese: medir esses raios e verificar se, além do urânio, havia outros elementos capazes de produzir radiações. Logo nas primeiras semanas fez uma descoberta animadora: o tório e seus compostos tinham as mesmas propriedades do urânio. Marie passou a outra série de experiências. Com um aparelho inventado por Pierre, mediu a intensidade da corrente provocada pelos compostos de urânio e tório. Anos antes de conhecer Marie, em 1880, Pierre e seu irmão Jacques tinham feito uma descoberta importante: a piezeletricidade, ou seja, a produção de corrente elétrica em conseqüência da compressão ou dilatação de cristais cuja estrutura molecular não é simétrica. As antigas cápsulas de cerâmica dos toca-discos, o acendedor elétrico de fogão e o relógio a quartzo só foram possíveis graças a esse trabalho. O primeiro resultado foi a descoberta de que a atividade dos compostos de urânio dependia apenas da quantidade de urânio neles presente — e de nada mais.
Do ponto de vista estritamente científico, foi essa sua grande descoberta. Ela provou que a radiação não era conseqüência nem da interação entre as moléculas, nem da formação de novas moléculas, nem ainda da reorganização de moléculas — como ocorre numa reação química normal. Essa energia só podia estar saindo de um lugar: dos átomos propriamente ditos. Certos elementos químicos são assim, e ponto.
Entre as substâncias manipuladas por Marie Curie estavam dois minerais que continham grandes proporções de urânio: a pechblenda e a chalcolita. Ela intuía que esses minerais continham, na verdade, pequenas quantidades de outra substância — até então desconhecida, e consideravelmente mais ativa que o próprio urânio. Ao ser colocado diante da hipótese, Pierre ficou intrigado e resolveu interromper seus trabalhos com os cristais para dedicar-se aos átomos. Era 14 de abril de 1898.
Dois meses depois, algo extraordinário aconteceu. Marie pegou uma solução de nitrato de bismuto e misturou-a a sulfato de hidrogênio. Depois, recolheu o sólido precipitado (como o Nescau que se acumula no fundo do copo em vez de se diluir no leite) e mediu sua atividade. O resultado está sublinhado: “150 vezes mais ativo que o urânio”. No mesmo dia, depois de colocar sulfato de bismuto numa proveta e aquecê-lo a 300 graus, Pierre percebeu que um fino pó negro se depositara no vidro. Em dado momento, a proveta estourou, mas a atividade do pó negro foi medida: 330 vezes superior à do urânio. Quanto mais purificavam a substâmcia, mais ela se revelava radioativa.
Eles estavam diante de um novo elemento – que, em homenagem ao país natal de Curie, foi chamado de polonium (polônio, em português). De julho a novembro de 1898, o casal se afastou do laboratório para cuidar da saúde. Ambos sentiam um cansaço inexplicável e dores leves. Estavam frágeis e ficavam doentes continuamente. Pierre achava que estava com reumatismo. As pontas dos dedos de Marie doíam muito e rachavam à medida que ela manipulava as soluções purificadas. Eram as consequências da radioatividade — cujos perigos, hoje tão conhecidos, eram ignorados pelos dois.
De volta à pesquisa, obtiveram uma substância novecentas vezes mais radioativa que o urânio. Ao novo elemento deram o nome de radium (rádio). A 26 de dezembro, a descoberta é comunicada à Academia de Ciências numa nota assinada por Pierre, Marie e o químico Georges Bémont—chefe da equipe de pesquisas da escola. Só faltava provar que o rádio era um elemento presente na natureza, e não uma substância produzida em laboratório. Foi a isso que, entre 1899 a 1902, o casal se dedicou. Pierre mergulhou no estudo das propriedades da radiação, enquanto Marie tentava isolar a substância e obter um frasco de sal de rádio. Para consegui-lo, ela se debruçou sobre toneladas de resíduos de pechblenda.
“Eu passava às vezes o dia inteiro a mexer uma massa em ebulição com um bastão de ferro quase tão grande quanto eu. A noite, estava quebrada de cansaço”, escreveu Marie. Apesar disso, esse trabalho era sua paixão. À noite, depois de passar em casa e cuidar da filha, eles retornavam ao laboratório. “Para dar uma olhada”, dizia Marie. “Nossos preciosos produtos, para os quais não tínhamos abrigo, estavam colocados sobre mesas e prateleiras; de todos os lados víamos suas silhuetas fracamente luminosas, e essas luzes que pareciam suspensas na escuridão eram um motivo sempre novo de emoção e encantamento.” O rádio purificado é uma substância luminosa e fluorescente.
Em 1900, Pierre foi finalmente convidado para ser professor na Sorbonne, enquanto Marie assumia o posto de professora de Ciências Físicas na Escola Normal Superior da cidade de Sèvres, perto de Paris, só para moças. Os novos empregos roubaram tempo das pesquisas. Mas, em março de 1902, Marie escreve: “Ra = 225,92”. Ou seja, ela havia chegado ao peso de um átomo de rádio. As experiências sobre as propriedades do rádio pareciam indicar que ele poderia ser útil no combate ao câncer.
A notícia correu mundo e o casal virou lenda. Pierre foi convidado a pronunciar uma conferência na respeitadíssima Royal Society de Londres, o templo supremo da ciência europeia. Marie recebeu menção honrosa ao apresentar sua tese de doutorado em Física, na Sorbonne. Em dezembro de 1903, enfim, a Academia Sueca concedeu o Prêmio Nobel de Física ao casal Curie e a Antoine-Henri Becquerel. Acostumados a uma vida quieta, os dois não conseguiram se livrar dos inúmeros convites para entrevistas, recepções, jantares ou espetáculos ao lado dos grandes nomes da sociedade. Um ano depois, nasceu mais uma filha, Eve – o que complicou ainda mais as coisas.
Pierre se incomodou com a vida de celebridade. Numa carta enviada a um amigo de infância, em julho de 1905, desabafa: “Há mais de um ano não faço nenhum trabalho e não tenho um minuto para mim. Esta é uma questão de vida ou de morte do ponto de vista intelectual”. Mesmo assim, pressionado pelo reitor da Universidade de Paris, no mesmo ano Pierre aceita disputar uma cadeira na Academia de Ciências—na primeira tentativa, anos antes, ele fora derrotado e sofrera com isso. Desta vez, ganha.
Em abril de 1906, Pierre abandonou os trabalhos com a radioatividade e se preparava para voltar a seus velhos cristais. Na tarde do dia 5, depois do almoço dos professores da Faculdade de Ciências, foi a pé até a editora que publicava seus artigos. A porta estava fechada: gráficos em greve. Decidiu, então, caminhar até o cais do Sena, em direção à Academia.
No meio do caminho, foi atropelado: a roda de uma charrete passou por cima de sua cabeça. Tinha apenas 47 anos. Arrasada com a notícia, Marie se abandonou a uma dor profunda. Sete meses mais tarde, depois de muita insistência, aceitou ocupar a cadeira que pertencera ao marido na Sorbonne. Sua aula inaugural reuniu mais de uma centena de pessoas dos mais diferentes meios. Ela não fez por menos: começou o curso retomando a última aula de Pierre, exatamente onde ele havia terminado. Nos quatro anos seguintes, além de lecionar, dedicou-se a extrair rádio puro, numa tarefa penosa.
Em julho de 1895, Marie e Pierre Curie oficializavam seu casamento civil. Em 1897, nascia sua primeira filha, Irène, sob os cuidados do pai de Pierre, que era médico. Logo depois, Pierre perderia sua mãe, e os Curie passariam a formar uma família bastante unida. O avô era muito apegado à Irène, e passou a dar suporte para que Pierre e Marie continuassem suas pesquisas no laboratório.
Assim, Marie decidiu dar início às suas pesquisas, visando à obtenção do doutorado, cujo feito ainda era inédito para as mulheres na França. Na escolha do tema do doutorado, Marie foi bastante influenciada pelas descobertas recentes (1895) dos raios X por Röntgen, e pelo relato de Henri Becquerel (1896), de que os minérios de urânio emitiam raios que também eram capazes de impressionar chapas fotográficas mantidas no escuro. Marie havia recebido uma grande variedade de minerais, e com o auxílio do eletrômetro inventado anteriormente por Pierre, observou que, além do urânio, os que continham tório também emitiam algum tipo de radiação capaz de ionizar gases.
A natureza dos compostos de tório e urânio, assim como a temperatura, não tinha influência no fenômeno. Um dos minerais conhecidos como pitchblenda tinha até 80% de U3 O8 e seu poder ionizante era muitas vezes maior que o do próprio urânio em estado puro. Sua composição, entretanto, era bastante complexa, contendo cerca de 30 elementos. Por causa da elevada radioatividade, Marie Curie suspeitou da existência de um novo elemento.
O trabalho de fracionamento químico e de monitoração física das radiações era bastante extenuante. Por isso, Pierre passou a ajudar Marie em seu trabalho de busca de novos elementos. Conseguindo permissão para utilizar as instalações precárias de um galpão desocupado próximo do laboratório de Pierre, Marie começou o trabalho de fracionamento da pitchblenda. Através da Academia de Ciências de Viena, receberam do governo da Áustria toneladas de resíduos de pitchblenda, de onde o urânio já havia sido extraído para uso na fabricação de vidros.
Enquanto obtinha as diversas frações, seu conteúdo radioativo era monitorado com o eletrômetro, para chegar a duas frações mais ativas: uma de concentrado de bismuto e outra de bário. Em julho de 1898, o casal Curie anunciava a descoberta de um novo elemento no concentrado de bismuto, o qual chamaram de polônio, em homenagem ao berço amado de Marie. Seu peso atômico foi determinado como 225. Concentrando-se nos resíduos de bário, observaram que, após a remoção do BaCl2 , a radioatividade ficava na parte insolúvel.
Em julho de 1902, várias toneladas de pitchblenda haviam sido processadas para chegar a 0.1 g de BaCl2 . Esse material foi analisado pelo espectroscopista Eugène-Anatole Demarçay, revelando uma linha nova, distinta das do bário. A purificação do material, até chegar ao máximo de sua atividade radioativa, levava à uma intensificação da nova linha espectral, confirmando tratar-se de um novo elemento.
Esse material brilhava no escuro. Assim, em dezembro de 1898, o casal anunciava a descoberta do elemento que chamaram de rádio. Em 1903, Marie Curie finalmente defendeu sua tese de doutorado, Pesquisas sobre substâncias radioativas. Os examinadores consideraram a tese de Marie Curie como a mais importante contribuição científica registrada até então.
Nesse ano, o casal foi convidado para uma homenagem na Instituição Real, em Londres. A tradição excluía a participação de mulheres como conferencistas, e Pierre proferiu o discurso, dando enorme crédito ao trabalho de Marie. A saúde de Pierre já estava se deteriorando rapidamente, e ele teve muita dificuldade de cumprir sua tarefa. Suas mãos estavam tão atacadas que acabou derrubando um pouco de rádio na sua demonstração sobre a luminescência desse elemento.
Em 1903, a Academia de Ciências da França indicou Henri Becquerel e Pierre Curie como candidatos ao Prêmio Nobel de Física. Através do matemático sueco Magnus Goesta Mittag-Leffler, membro do Comitê Nobel, Pierre tomou conhecimento da exclusão do nome de Marie Curie. Não tardou para alertar o comitê do grave erro que estariam cometendo ao ignorar o papel fundamental de Marie Curie nas descobertas sobre a radioatividade. Assim, à revelia da França, o casal Curie e Becquerel foram laureados com o Prêmio Nobel de Física em 1903. A importância da descoberta dos novos elementos, polônio e rádio, não foi destacada na premiação, o que deixou a comunidade de químicos pouco satisfeita. Pierre Curie foi convidado para ser professor da Universidade de Sorbonne, mas recusou por não poder contar com um laboratório adequado. Em 1904, acabou aceitando o convite, diante das promessas de construção de um laboratório. O Prêmio Nobel teve profundo impacto na vida do casal Curie, como perda de privacidade e surgimento de muitos compromissos. Em 1904, nascia a segunda filha do casal, Eve.
Em 1906, em um dia de muitos compromissos, quando saía apressadamente de uma reunião no período do almoço, debaixo de chuva, Pierre foi atropelado por um pesado carro-vagão puxado por cavalos. Sua morte foi instantânea.
Marie passou a liderar a família com seu sogro e as duas crianças, e foi indicada como sucessora de Pierre em Sorbonne. Ainda em choque com a morte de Pierre, Marie tomou conhecimento de um artigo na primeira página da revista London Times, escrito por Lord Kelvin (William Thonson), afirmando que o rádio não era um elemento, mas sim um composto de chumbo com cinco átomos de hélio. Ciente de que isso acabaria com toda a teoria da radioatividade, Marie voltou para suas pesquisas no laboratório, para mostrar que Lord Kelvin estava errado.
Ela voltou a trabalhar logo após a morte de Pierre e ainda assumiu as pesquisas acadêmicas do marido. “Arrasada pelo golpe, eu não me sentia capaz de enfrentar o futuro. Eu não poderia esquecer, no entanto, que o meu marido costumava dizer que, mesmo sem ele, eu deveria continuar o meu trabalho”, escreveu Marie. Com o auxílio de um colega, André Debierne, ela purificou novas quantidades de cloreto de rádio e isolou o elemento em estado puro, através da eletrólise do sal fundido. Depois determinou o peso atômico como sendo 225, colocando o rádio definitivamente na tabela periódica.
Em 1910, publicou seu livro Tratado sobre a radioatividade, conquistando o direito de ter o seu nome como unidade internacional: “Um curie é a quantidade de substância radioativa que decai a uma taxa de 3.7 x1010 desintegrações por segundo” Muito assediada pela imprensa após o recebimento do primeiro Prêmio Nobel, Marie Curie tornou-se alvo de intrigas quando se candidatou para uma vaga de física na Academia de Ciências da França, concorrendo com Edouard Branly.
As circunstâncias favoreciam Branly, pois o Prêmio Nobel de 1909 havia sido concedido para o italiano Gugliemo Marconi, frustrando a esperança que a França depositara em Branly. Além disso, a ligação de Branly com a Igreja projetava um forte contraste com Marie Curie. Branly venceu a eleição por dois votos. Marie Curie já estava bem estabelecida em Sorbonne, quando seu relacionamento com Paul Langevin (1872-1946) veio à tona. Langevin era um ex-aluno brilhante de Pierre Curie, que estava enfrentando uma séria crise no casamento, acusado pela esposa de trocar a família, ela e seus quatro filhos, pelo trabalho.
Marie tinha apenas 38 anos de idade quando ficou viúva. Pouco tempo depois, se envolveu com Paul Langevin, ex-aluno de seu marido. Um homem brilhante e tão comprometido com a ciência como Pierre era seria capaz de preencher o vazio deixado pelo falecido marido de Marie. Além disso, ele era bonitão e tinha um “próspero bigode”. Como não amar? Havia apenas um problema: ele já era casado.
Curie e Langevin tiveram um relacionamento amoroso mesmo assim. Na realidade, Langevin já estava acostumado a ter relações extraconjugais. Seu casamento não era nem um pouco feliz, e sua esposa supostamente uma vez lhe quebrou uma garrafa na cabeça.
A esposa traída estava consciente das incursões anteriores com outras mulheres, mas algo sobre Curie a enfureceu. Por isso, quando Madame Langevin descobriu que seu marido e sua amante tinha montado um apartamento juntos, onde eles poderiam se encontrar escondido, ela mandou alguém invadir o local. O ladrão levou cartas íntimas do casal, as quais Madame Langevin ameaçou expor ao público caso eles não parassem de se relacionar.
No entanto, de nada adiantou a ameaça da mulher de Langevin. O casal continuou se encontrando, até que, três dias antes de Marie Curie ganhar seu segundo prêmio Nobel, Madame Langevin vazou as cartas para a imprensa, declarando que ela queria dinheiro e a custódia dos filhos do casal Langevin.
Os jornais se deliciaram com a história. Eles pintaram Curie como uma sedutora que tinha atraído um homem de família e o afastado de sua boa esposa e seus amados filhos. Não foi difícil convencer os leitores disso, dado o preconceito da época contra estrangeiros – lembrando que Marie era nativa da Polônia e (provavelmente, não há dados muito precisos) judia.
Os jornais – sempre eles – espalharam os rumores de que o caso tinha começado quando Pierre ainda estava vivo. As alegações, apesar de falsas, mancharam o nome de Marie Curie o suficiente para que o Comitê do Prêmio Nobel lhe pedisse para ficar na França em vez de viajar até a Suécia para aceitar seu prêmio. Imagine só, o que as pessoas pensariam de uma adúltera recebendo uma premiação do próprio rei da Suécia!?
Pausa para a explicação de que o tal rei da Suécia, Gustaf V, não teria moral alguma para recriminar o suposto comportamento infiel de Marie. O próprio foi acusado, anos mais tarde, ainda durante o seu reinado, de também ter um caso com um homem casado. O comerciante Kurt Haijby quis agendar uma audiência com o rei, em 1932, para conseguir o alvará de venda de bebidas alcoólicas para seu restaurante – ele não poderia obter o documento por vias legais porque tinha sido um criminoso condenado. Durante a reunião, Gustaf V teria seduzido Haijby. A esposa do comerciante acabou pedindo o divórcio, citando o relacionamento de seu marido com o rei. No fim das contas, Haijby recebeu 170 mil coroas de suborno para manter o bico fechado. Fim da pausa.
O grande Albert Einstein, por outro lado, se manifestou categoricamente em defesa de Curie, dizendo que ela deveria ir à Suécia, independentemente das (falsas) alegações. “Estou convencido de que você deve desprezar esta gentalha… Se a plebe continua a se ocupar de sua vida, simplesmente pare de ler estes disparates. Deixe isso para as víboras para as quais estas notícias foram feitas”.
E a polêmica não para por aí. A fofoca ainda rendeu um baita duelo travado entre dois editores de jornais rivais: M. Chervet, do periódico “Gil Blas” e Leon Daudet, do “L’Action Française”. Os argumentos giravam em torno da veracidade das acusações de Madame Langevin. A briga realmente chegou às vias de fato: a luta foi travada com espadas e depois de “vários ataques ferozes”, Daudet ficou ferido e os dois se reconciliaram.
Outra discussão quente envolveu o próprio Paul Langevin e Gustave Tery, um jornalista que o chamou de “cafajeste e covarde”. Langevin, que era um homem de não levar desaforo para casa, exigiu que um duelo fosse combatido com pistolas para resolver a questão. O desafio chegou a ser preparado, mas resultou em nada, uma vez que Tery se recusou a atirar, alegando que não queria matar um dos maiores gênios da França. Langevin declarou que ele também não era um assassino e concordou em colocar a arma no chão.
Toda a agitação acerca do affair efetivamente acabou com ele. Langevin e sua esposa foram capazes de resolver suas diferenças fora do tribunal e, posteriormente, se reconciliaram, embora mais tarde Langevin acabasse vindo a ser o pai de um filho ilegítimo com sua secretária.
Embora Marie Curie e Paul Langevin nunca reataram o romance, esse não foi o fim das relações Curie-Langevin. A neta de Marie, Helene Joliot-Curie, acabou se casando com o neto de Paul, Michel Langevin. O matrimônio foi, provavelmente, o suficiente para colocar os pés da vovó Langevin no túmulo – isso se eles já não estavam lá.
Seguindo o conselho de Einstein, Marie viajou para a Suécia, apesar do conselho do comitê, e aceitou seu segundo Prêmio Nobel. Depois, sentou-se na mesma mesa que o rei da Suécia para uma refeição de onze pratos, e tudo ocorreu bem. Ela, a propósito, foi a primeira pessoa – homem ou mulher – a ganhar o Prêmio Nobel por duas vezes.
Além dos dois prêmios Nobel de Marie, o resto de sua família teve a honra de receber outros três: o marido Pierre Curie ganhou um, sua filha Irène Joliot-Curie foi a vencedora do Prêmio Nobel de Química em 1935, junto com o marido, e sua segunda filha era a diretora da Unicef quando a organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1965.
Até o momento, quatro pessoas já ganharam o Nobel duas vezes: Maria Sklodowska-Curie (1903 e 1911, pela descoberta da radioatividade [Física] e, posteriormente, pelo isolamento do elemento químico rádio puro [Química], John Bardeen (1956 e 1972, ambos de Física, pela invenção do transistor e pelo desenvolvimento da Teoria da Supercondutividade, Linus Pauling (1954 e 1962, pela pesquisa sobre a ligação química em termos de substâncias complexas [Química] e pelo ativismo antinuclear [Paz] e Frederick Sanger (1958 e 1980, por descobrir a estrutura da molécula de insulina e inventar um método para determinar as sequências de bases do DNA, ambos prêmios Nobel de Química).
O fim de sua triste história é famoso. Marie Curie, infelizmente, pagou por seu trabalho com a própria vida. Em 1934, ela sucumbiu à leucemia, o resultado da exposição prolongada à radiação. Seus trabalhos, mesmo hoje, ainda são muito radioativos para serem manipulados sem a proteção adequada. [Gizmondo]
Em 1910, Langevin havia deixado a família, para morar perto do laboratório de Marie Curie. Em 1911, os rumores do relacionamento de Curie com Langevin tornaram-se muito fortes quando a Sra. Langevin entrou com o pedido de separação judicial. Nesse ano, Marie Curie, Paul Langevin e outros vinte físicos de grande expressão reuniram-se em um evento clássico, em Bruxelas, para discutir a nova era da física que estava se delineando, com a teoria da relatividade, a descoberta da radioatividade e o início da era quântica (Figura 9.6). A foto desse grupo reunido é considerada um marco histórico na física moderna. A Conferência de Bruxelas foi organizada e patrocinada pelo industrial belga Ernest Solvay, em 1911, para discutir as novas perspectivas da física após a relatividade, quantização e radioatividade. Marie Curie era a única cientista mulher na foto. Paul Langevin é o último à esquerda ao lado do jovem Albert Einstein. Enquanto o mundo noticiava esse importante evento, a imprensa francesa publicava as cartas trocadas entre Marie Curie e Paul Langevin, explorando o sensacionalismo e a infelicidade que se abatera sobre a família Langevin.
No retorno a Paris, uma multidão furiosa impediu Marie de entrar em sua casa, onde as filhas estavam aterrorizadas, sem entender o que estava acontecendo. Depois de ser acolhida por amigos, Marie não mais voltou ao bairro onde morava. Ainda em 1911, Marie Curie foi surpreendida com um telegrama comunicando seu Prêmio Nobel em Química. O recebimento de dois Prêmios Nobel era um fato inédito. O Nobel em Química foi anunciado pela contribuição de Marie aos avanços da química através da descoberta dos elementos rádio e polônio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza e dos elementos.
(Figura 9.6)
7a Conferência Solvey (Bruxelas, 1911). Da esquerda para a direita (sentados): W. Nernst, M. Brillouin, E. Solvey, H. Lorentz, E. Warburg, J. Perrin, W. Wien, Marie Curie e H. Poincaré; (em pé): R. Goldschmidt, M. Plack, H. Rubens, A. Sommerfeld, F. Lindermann, M. de Broglie, M. Knudsen, F. Hasenöhrl, G.Hostelet, E. Herzen, J. H. Jeans, E. Rutherford, H. Kamerlingth Onnes, A. Einstein e P. Langevin
Bastante abalada com os escândalos da imprensa francesa, ela foi para a cerimônia de premiação, em 10 de dezembro de 1911, acompanhada de sua filha Irène e de sua irmã, Bronya. Passado esse período de intensa agitação em sua vida, Marie Curie entrou em depressão, tendo seu estado de saúde agravado por problemas nos rins. Recolheu-se em uma clínica, usando o nome de solteira, sentindo-se constrangida em relação à memória de Pierre.
Depois, fugindo da imprensa, abrigou-se na casa de uma amiga em Londres, até sentir-se recuperada. Em dezembro de 1912, ela retornou à Sorbonne, usando novamente o sobrenome Curie. Sua grande meta passou a ser o recém-criado Instituto do Rádio, que ela considerava um tributo à memória de Pierre Curie. Nele seriam desenvolvidas novas pesquisas e produtos, principalmente voltados para a aplicação da radioatividade na medicina.
O Instituto foi inaugurado em agosto de 1914, mês em que a Alemanha declarava guerra à França. Em setembro de 1914, as bombas atingiram Paris. No Instituto do Rádio ficaram apenas duas pessoas: Marie Curie e um técnico que não podia fazer grandes esforços por problemas cardíacos. Com o agravamento da guerra, Marie percebeu que poderia contribuir com serviços de radiologia, chefiando uma divisão na Cruz Vermelha.
Conseguiu convencer os fabricantes de veículos a adaptarem algumas unidades para uso em campo, colocando em operação 20 laboratórios móveis de radiologia ainda nesse ano. Marie voltou sua atenção para o Instituto do Rádio, procurando angariar fundos e apoio para transformá-lo em uma instituição respeitada internacionalmente. Obteve o apoio de Henri Rothschild, e com isso estabeleceu uma equipe de alto nível. Em 1920, Curie foi entrevistada pela jornalista americana Meloney e declarou que o Instituto do Rádio já quase não dispunha desse elemento para pesquisa, o que provocou uma comoção generalizada.
Realizou-se uma campanha nos laboratórios americanos para fornecer rádio para o instituto de Marie, com bastante sucesso. O nome de Marie Curie cresceu internacionalmente para tornar-se um mito. Na pesquisa feita pela revista New Scientist, Marie Curie foi eleita a mulher mais influente da ciência, de todos os tempos. Marie Curie morreu perto de Salanches, França, em 1934, de leucemia, devido, seguramente, à exposição maciça a radiações durante o seu trabalho. Assim como Marie, sua filha, Irène Joliot-Curie (1897-1956), entrou para a vida científica juntamente com seu marido, o físico Frédérick Figura 9.7: Frédérick Joliot e Irène Joliot-Curie Joliot (1900-1958) (Figura 9.7).
O casal descobriu a radioatividade artificial e demonstrou a existência do nêutron, recebendo o Prêmio Nobel de Química de 1935. Em consideração ao centenário do Prêmio Nobel de Química concedido a Marie Curie em 1911, a ONU anunciou o ano de 2011 como o Ano Internacional da Química.
Taciturna, reservada, preocupada em preservar sua privacidade, Marie viu-se em 1911 no centro de um escândalo. A mulher do físico Paul Langevin —que freqüentou a roda dos Curie por longos anos—tornou pública a correspondência amorosa entre Marie e seu marido. O escândalo foi tal que, por alguns meses, com a saúde abalada, ela viveu escondida fora de Paris, com o nome de solteira. No meio desse furacão, a Academia Sueca Ihe concede seu segundo Prêmio Nobel—desta vez de Química, pela descoberta do rádio e do polônio.Marie é uma das cientistas mais subestimadas. Em parte porque ela era uma mulher solitária no “mundo dos homens”: na época em que as mulheres nem sequer podiam votar na Europa e nos EUA. Portanto, não se surpreenda se você não ouviu falar dela tanto quanto ouviu sobre Albert Einstein.
No entanto, ela foi uma pesquisadora mais prolífica, que ganhou mais honras de prestígio do que Einstein. Curie é a primeira mulher laureada com o Nobel; e até agora, a única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em dois ramos da ciência: física e química. Ela também é a primeira mulher a receber uma cadeira professora na Universidade de Paris (França). Além de descobrir o polônio e o rádio, o desenvolvimento da Química Radioativa por Curie fortaleceu as bases da Física Atômica e das Tecnologias Nucleares.
Após as mortes de seu marido (Pierre Curie) em 1906 e seu mentor (Henri Becquerel) em 1908, Marie Curie continuou a avançar os trabalhos que eles haviam iniciado. Ela também contribuiu para aplicações práticas dos raios X, que Wilhelm Roentgen foi pioneiro. Na verdade, a razão pela qual ela relegou suas pesquisas radioativas para o banco de trás durante a Primeira Guerra Mundial foi porque se ofereceu para servir as forças armadas francesas como radiologista de raio X.
E ela tem mais elogios para mostrar. Isso tudo conseguido enquanto enfrenta discriminações de gênero enraizadas em todos os níveis da academia. Ela também contribuiu para aplicações práticas dos raios X, que Wilhelm Roentgen foi pioneiro.
Primeira Guerra Mundial, a Marie levava as máquinas de raio-x para os campos de batalha para poder ajudar os soldados feridos.
Em 1914, a Primeira Guerra Mundial mobiliza as energias da cientista. Ela cria uma rede de máquinas de raios X em todo o front francês para melhorar o atendimento médico.
Na Primeira Guerra Mundial, a Marie levava as máquinas de raio-x para os campos de batalha para poder ajudar os soldados feridos.
Marie levando um raio-x móvel para um campo de batalha na França
No fim da guerra, retoma suas pesquisas: passa os dias trabalhando 12 ou 14 horas no laboratório. Em 1921, um giro de conferências a leva a vários países, entre eles o Brasil. Nos Estados Unidos teve uma acolhida triunfal—as mulheres se cotizaram para doar-lhe um grama de rádio, que ela utilizaria nas pesquisas sobre aplicações da radioatividade em Medicina.
A essa altura, Marie era amiga de todos os grandes nomes da ciência. Albert Einstein, por exemplo, chegou a passar férias com ela, em sua casa no sul da França. O “curie” tornou-se a unidade de medida da radioatividade. Com a saúde minada e quase cega, Marie morreria aos 66 anos, em 1934, vítima de leucemia – provável conseqüência de anos de manipulação de substâncias radioativas. Um ano a mais de vida e ela teria tido a alegria de ver a filha Irène e o genro Frédéric Joliot—ambos físicos e formados à sombra da velha dama—receberem o terceiro Prêmio Nobel da família Curie.
Bibliografia CURIE, M. (Disponível em : Acesso em 1/2011.) GREENBERG, A. Um passeio pela história da química. Tradução: H. E. Toma, P. Cório e V. K. L. Osório. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2010. IHDE, A. J. The development of modern chemistry. New York: Harper & Row, 1966
Citações de Marie Curie
“NA VIDA, NÃO EXISTE NADA A SE TEMER, APENAS A SER COMPREENDIDO.”“SEJA MENOS CURIOSO SOBRE AS PESSOAS E MAIS CURIOSO SOBRE AS IDEIAS.”
“CADA PESSOA DEVE TRABALHAR PARA O SEU APERFEIÇOAMENTO E, AO MESMO TEMPO, PARTICIPAR DA RESPONSABILIDADE COLETIVA POR TODA A HUMANIDADE.”
“A VIDA NÃO É FÁCIL PARA NENHUM DE NÓS. TEMOS QUE TER PERSISTÊNCIA E, ACIMA DE TUDO, CONFIANÇA EM NÓS MESMOS.”
“NÃO PODEMOS ESPERAR CONSTRUIR UM MUNDO MELHOR SEM MELHORAR OS INDIVÍDUOS.”“O CAMINHO PARA O PROGRESSO NÃO É RÁPIDO NEM FÁCIL.”
“DEVEMOS ACREDITAR QUE SOMOS DOTADOS DE ALGUMA COISA E QUE ESSA COISA DEVE SER ALCANÇADA A QUALQUER CUSTO.”
“EU NÃO TENHO NENHUM VESTIDO ALÉM DO QUE USO TODO DIA. SE VOCÊ FOR GENTIL O SUFICIENTE PARA ME PRESENTEAR UM, SÓ PEÇO QUE SEJA PRÁTICO E ESCURO PARA QUE EU POSSA VESTI-LO LOGO EM SEGUIDA PARA IR PARA O LABORATÓRIO.”
https://super.abril.com.br/historia/o-casal-curie/https://medium.com/@oquecoisa/marie-curie-5c955b9fad9chttps://pt.carolchanning.net/obrazovanie/84057-kyuri-per-nauchnye-dostizheniya-nobelevskaya-premiya-po-fizike-pera-i-marii-kyuri.html https://midia.atp.usp.br/impressos/lic/modulo02/evolucao_PLC0014/evolucao_top09.pdf
Químico Monstro !
Fritz Haber comunicou aos generais alemães que estava disposto a trabalhar e testar, pessoalmente, as armas químicas. Ele teve intensa participação na orientação do exército alemão, trabalhando junto aos generais em sua posição de cientista e reservista.
Em 22 de abril de 1915, uma fumaça verde-amarelada venceu as tropas francesas na planície de Ypres. Era um agente químico, o gás cloro, lançado a partir de 5.730 cilindros de metal, cada um pesando 100 quilos, com cloro líquido, ao longo de 10 km de frente. Os soldados alemães que realizaram o ataque eram, na realidade, cientistas, liderados por Fritz Haber. Além do uniforme militar, eles usavam máscaras protetoras e ficaram conhecidos como o batalhão Pionierkommando 36. A fumaça levada pelo vento corroeu os pulmões dos soldados inimigos e os cegou. Resultado final do combate: 10 mil mortos e 5 mil feridos.
Com a ajuda de Fritz Haber, a Alemanha conseguiu prolongar a guerra, mas houve um contra-ataque e os aliados passaram a usar também gases químicos contra os alemães. Durante os quase cinco anos de conflito foram testados 22 agentes químicos diferentes. Cerca de quinze milhões de pessoas morreram na Primeira Guerra Mundial.
Fritz Haber ganhou o Nobel da Química de 1918, mas, devido à guerra, só recebeu o prêmio em 1920. Houve indignação na comunidade científica, pois muitos o consideravam um criminoso de guerra. Vários ganhadores daquele ano se recusaram a participar da cerimônia de entrega do prêmio em sinal de protesto pela escolha de Haber. Em 1933, Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha. Com ele, tem início a maior barbárie da história da humanidade, que resultaria na morte de milhões de pessoas, entre elas, 6 milhões de judeus.
Haber foi para a Suíça e, pouco tempo depois, morreu de ataque cardíaco em um hotel da Basiléia. Foi no dia 29 de janeiro de 1934.
Haber era judeu. E de acordo com a política nazista, não havia espaço para os judeus na Alemanha. A única opção que restou a ele foi fugir do seu país. Morreu pouco tempo depois, deixando, porém, seu nome gravado na História.
Mas tanto o cientista como sua invenção se apresentaram ao mundo de duas formas bastante diferentes. Haber foi considerado herói e vilão. No caso da síntese da amônia, se por um lado, ela permitiu a fabricação de fertilizantes químicos nitrogenados sintéticos, alimentando bilhões de pessoas, por outro lado, gerou diversos efeitos colaterais que causaram um enorme impacto ambiental.
Além de ter permitido a produção de explosivos em larga escala, o que resultou na morte de milhões de pessoas, o nitrogênio produzido gerou um sistema onde os fertilizantes são utilizados de forma inadequada trazendo danos ao meio ambiente. Por exemplo, compostos de nitrogênio ajudam na formação das marés vermelhas, contribuem para a redução da biodiversidade e inutilizam água potável.
O aumento do consumo de biocombustíveis produzidos a partir das plantas adubadas com fertilizantes nitrogenados implica no aumento dos problemas ambientais.
O que fazer, então?
Esta é uma pergunta ainda sem resposta. O mundo está aguardando que um novo cientista descubra uma solução para este problema.
http://web.ccead.puc-rio.br/condigital/mvsl/linha%20tempo/Fritz_Haber/guerra.html